Fez esta noite 50 anos, que os Tenentes
Rocha Neves (já falecido), Virgílio Varela (já falecido) e Silva Carvalho (meu
comandante de companhia em 1980/81) deram ordem de prisão aos então 1º e 2º
comandantes do Regimento de Infantaria das Caldas da Rainha (na altura RI5)
dando início ao que se chamou a intentona das Caldas.
O resultado é conhecido, com a Unidade a ser
cercada já durante o dia por forças fiéis ao regime da Região Militar de
Tomar. Os militares revoltosos sabiam que a força que os cercava contava
com oficiais afectos ao Movimento das Forças Armadas, o que lhes deu alguma
tranquilidade quanto à eventualidade de um confronto armado. Tal era o
estado de um dos pilares do regime!
Seguiu-se a rendição do Regimento
com 33 oficiais a serem detidos, agredidos e transferidos para a
prisão militar da Trafaria. Destes conheci os Capitães : Silva Carvalho, Rocha
Neves, Bettencourt Coelho, João Madalena Lucas, Ivo Garcia, Montalvão e Carreira Ângelo
(comandante da minha companhia de instrução). Os sargentos e praças foram levados para o Campo Militar
de Santa Margarida.
Estes militares só seriam libertados 40 dias
depois pelos seus camaradas da Escola Prática de Artilharia de Vendas Novas,
que teve por missão posicionar as suas peças na base do Cristo Rei, as
quais com o seu efeito dissuasor foram determinantes na
neutralização, sem disparos, da fragata Gago Coutinho, entretanto posicionada
em frente ao Terreiro do Paço, onde se encontrava a força da Escola Prática de
Cavalaria comandada pelo Capitão Salgueiro Maia.
Um aspecto pouco conhecido, é que a estes 33
oficiais libertados na noite do 25 de Abril, pelos seus camaradas da EPA de
Vendas Novas, foram atribuídas imediatamente missões pelo MFA, tendo só
regressado às suas casas alguns dias depois. O Tenente Silva Carvalho, hoje
Coronel, foi incumbido de coordenar as forças do Movimento no
Quartel-General de S. Sebastião da Pedreira (Lisboa).
Convivi diariamente com estes homens durante 17
meses, enquanto cumpria o Serviço Militar no RI das Caldas.
Deixaram-me uma forte impressão de modéstia, discrição, sem ambições de poder,
e que por terem sido levados a fazer a guerra tinham uma consciência muito
nítida, muito madura do valor da Paz.
Sem passado não há presente.
C.F.
Sem comentários:
Enviar um comentário