sábado, 16 de março de 2024

PARA QUE A MEMÓRIA NÃO SE APAGUE

 

Fez esta noite 50 anos, que os Tenentes Rocha Neves (já falecido), Virgílio Varela (já falecido) e Silva Carvalho (meu comandante de companhia em 1980/81) deram ordem de prisão aos então 1º e 2º comandantes do Regimento de Infantaria das Caldas da Rainha (na altura RI5) dando início ao que se chamou a intentona das Caldas.

 

O resultado é conhecido, com a Unidade a ser cercada já durante o dia por forças fiéis ao regime da Região Militar de Tomar. Os militares revoltosos sabiam que a força que os cercava contava com oficiais afectos ao Movimento das Forças Armadas, o que lhes deu alguma tranquilidade quanto à eventualidade de um confronto armado.  Tal era o estado de um dos pilares do regime!

 

Seguiu-se a rendição do Regimento com 33 oficiais a serem detidos, agredidos e transferidos para a prisão militar da Trafaria. Destes conheci os Capitães : Silva Carvalho, Rocha Neves, Bettencourt Coelho, João Madalena Lucas, Ivo Garcia, Montalvão e Carreira Ângelo (comandante da minha companhia de instrução). Os sargentos e praças foram levados para o Campo Militar de Santa Margarida.

 

Estes militares só seriam libertados 40 dias depois pelos seus camaradas da Escola Prática de Artilharia de Vendas Novas, que teve por missão posicionar as suas peças na base do Cristo Rei, as quais com o seu efeito dissuasor foram determinantes na neutralização, sem disparos, da fragata Gago Coutinho, entretanto posicionada em frente ao Terreiro do Paço, onde se encontrava a força da Escola Prática de Cavalaria comandada pelo Capitão Salgueiro Maia.

 

Um aspecto pouco conhecido, é que a estes 33 oficiais libertados na noite do 25 de Abril, pelos seus camaradas da EPA de Vendas Novas, foram atribuídas imediatamente missões pelo MFA, tendo só regressado às suas casas alguns dias depois. O Tenente Silva Carvalho, hoje Coronel, foi incumbido de coordenar as forças do Movimento no Quartel-General de S. Sebastião da Pedreira (Lisboa).

 

Convivi diariamente com estes homens durante 17 meses, enquanto cumpria o Serviço Militar no RI das Caldas. Deixaram-me uma forte impressão de modéstia, discrição, sem ambições de poder, e que por terem sido levados a fazer a guerra tinham uma consciência muito nítida, muito madura do valor da Paz.

Vivemos tempos conturbados de corrida aos armamentos em que o perigo da emergência de um conflito de grande dimensão é real. É preciso falar mais de Paz e menos de guerra.

Sem passado não há presente.

 

C.F.



 


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