sexta-feira, 31 de março de 2023

HISTÓRIAS DA VIDA CLÍNICA - 2



                     Uma Noite de Urgência Infernal    

 

  Um colega mais velho que trabalhava na Maternidade Alfredo da Costa um dia pediu-me para o substituir numa Urgência que  fazia no Hospital de Sintra.

    Tinha um problema familiar a que não queria faltar e ia dizendo que era muito fácil tinha sempre muito poucos doentes e coisas sem importância e era uma grande favor que nos pedia .

     A vontade de ajudar era sempre o que nos movia, ainda inseguro falei com um colega e amigo o Afonso Domingues que aceitou e lá fomos para o Hospital de Sintra que pertencia à Misericórdia, um belo edifício hoje encerrado e em ruínas.

    Mal chegámos percebemos logo que não estava nada calmo, muitos doentes para atender e para complicar a situação eu estava com febre e uma valente amigdalite.

    Tanto doente devia-se ao dia festivo -era dia das Festas de S. Pedro de Sintra.

O pequenote (como lhe chamava o Afonso Domingues) já nos enganou!!

   Naquela tarde/noite apareceu de tudo: traumatismos graves que tivemos que transferir para outros Hospitais, patologias das mais variadas ,bebedeiras ,intoxicações alimentares, foi sempre a trabalhar.

   Para culminar este quadro dantesco já sobre a manhã chega uma jovem já cadáver , tinha ingerido um veneno que na época se usava na agricultura -o 605 forte- ao que nos disseram por desgosto de amor.

    Um inferno naquela Urgência a família em desespero aos gritos até que finalmente chega a hora de sairmos daquele suplício.

    Ficou uma recordação tenebrosa duma das piores noites de Urgência da nossa vida.


                      Para culminar o “Pequenote” nunca nos pagou!!!

A.M.

quarta-feira, 29 de março de 2023

E POR FIM


 




 

Henry Marsh

 

«Trabalhei como neurocirurgião durante mais de 40 anos (…) vivi num mundo cheio de medo e sofrimento, morte e cancro. Mas raramente pensei como seria se me acontecesse o que testemunhei diariamente no trabalho. Este livro é a história de como eu próprio me tornei um paciente».

O neurocirurgião Henry Marsh já estava reformado quando um exame ao cérebro lhe devolve o mais temido diagnóstico: um cancro em estado avançado. Começa aí a sua dolorosa descida do pedestal - o Dr. Marsh, um dos grandes médicos britânicos, é agora um mero paciente. É um caminho que impõe humildade, que convoca memórias de erros passados, que o desperta para o envelhecimento presente, a nua decadência do corpo no espelho.

No entanto, a vida continua. Nos dias bons o médico contempla o mundo lá fora, abre-se à paisagem, à natureza, aos prazeres quotidianos. Reflete na ciência do cérebro, nos seus limites, nas suas possibilidades. E volta sempre à família, ao amor que o rodeia, à mulher e aos filhos, àquilo que permanece.

Nesses momentos E Por Fim já não é uma carta de despedida, já não trata da morte - mas sim da vida e daquilo que realmente importa no final.

Da contracapa

 

O Autor

Henry Marsh estudou Política, Filosofia e Economia na Universidade de Oxford, antes de ingressar em Medicina no Royal Free Hospital de Londres.
Tornou-se membro do Royal College of Surgeons em 1984 e em 1987 começou a praticar neurocirurgia no St. George’s Hospital, também na capital de Inglaterra.
Sobre ele foram rodados dois documentários premiados: Your Life In Their Hands (medalha de ouro da Royal Television Society) e The English Surgeon, sobre o seu trabalho na Ucrânia (galardoado com um Emmy).
O autor é casado com a antropóloga Kate Fox.


Edição da Lua de Papel


domingo, 19 de março de 2023

HISTÓRIAS DA VIDA CLÍNICA - 1

 

 

Todos temos ao fim de uma vida de trabalho histórias para contar umas trágicas outras divertidas e com final feliz ,algumas encerram grandes ensinamentos que nos ficam na memória para toda a vida.

Vamos agora iniciar a publicação de algumas histórias  que nos pareceram dignas de ser contadas, aproveitamos para pedir a todos os leitores para nos enviarem algumas que vos pareçam relevantes.

                                                    Politraumatizado

As Urgências sempre foram fonte de episódios inusitados e quando pensamos que já vimos de tudo eis que aparece uma surpresa.

Numa daquelas noites pesadas em que não paravam de chegar politraumatizados vitimas de acidentes de automóvel, já noite dentro o Cirurgião Chefe da equipa de Banco foi passar visita ao SO.

Um doente Politraumatizado com traumatismo craniano , perda do conhecimento e traumatismo abdominal grave, foi apresentado na visita como um caso muito complicado, estava com agitação psicomotora, discurso incoerente, parecia completamente alheado do que se passava à sua volta. 

Depois de ter enumerado minuciosamente todos os problemas encontrados, o médico que o estava a assistir concluiu – NEM SEI BEM O QUE HEI DE FAZER - nesse momento o doente no meio de palavras impercetíveis diz - Dr. se não sabe o que deve fazer o melhor é não fazer nada.

Palavras sábias que me ficaram na memória para sempre, quando tenho algum caso mais complicado lembro-me sempre deste episódio .

Primum non nocere ou primum nil nocere é um termo latino que significa "primeiro, não prejudicar"

A origem do termo geralmente é atribuída a Hipócrates (460AC-377AC), o pai da medicina, que escreveu que "o médico deve... ter dois objetivos, fazer o bem e evitar fazer o mal".

                                                                                                                                          A.M. 

quinta-feira, 16 de março de 2023

HISTÓRIA DA MEDICINA PORTUGUESA DURANTE A EXPANSÃO

 






Germano de Sousa

 

Sou de opinião que a chamada pequena história, a história do quotidiano, a história de uma ciência ou de um determinado sector da sociedade, torna mais percetível e esclarece melhor a grande História. Sou também dos que se honram da sua profissão e, como tal, gosto de investigar e divulgar o seu passado, seguindo aliás, e com humildade, o exemplo maior de notáveis médicos historiadores que desde o século XIX têm abordado aspetos diversos da história da medicina portuguesa ao tempo da Expansão, como Maximiano de Lemos, Luís de Pina, Augusto Silva Carvalho, Ferreira de Mira, Mário Carmona, José de Vasconcelos e Menezes e outros.

Com este livro procurei fazer uma reflexão sobre o que foi a história da atividade médica e assistencial em Portugal e nas terras descobertas durante um período tão intenso e extraordinário da sua história e da história do mundo, época única na qual o nosso país foi um dos principais atores. Por um lado, saber como era ser médico nessa altura, quais eram a sua formação, os seus conhecimentos e a sua prática. Depois, lembrar como foram e como funcionaram os dois principais hospitais reais de então, o Hospital Real de Todos os Santos e o Hospital Real de Goa, e pôr em relevo a visão de governantes como D. João II, D. Manuel I e D. João III e dos seus conselheiros, que precocemente perceberam a necessidade de criar mecanismos de assistência sanitária que acompanhassem o esforço dos Descobrimentos. Por outro lado, dar um panorama do que foi a «medicina e a doença embarcada» e do sofrimento que isso significou para milhares de portugueses que tiveram a coragem de demandar as Índias, o Japão ou os Brasis. Por fim, descobrir e investigar de que forma participaram os médicos e os boticários na Expansão, e relatar as novas doenças existentes ou vindas das novas terras descobertas e em especial o impacte social de uma delas, a sífilis, a mais terrível de todas.

Da Introdução

 

O Autor

O Dr. Germano de Sousa é especialista em Patologia Clínica. Professor catedrático e diretor do Colégio de Ensino Pós-Graduado da Universidade Atlântica, é diretor do Serviço de Patologia Clínica do Hospital Fernando Fonseca. Conselheiro do Conselho Nacional de Ética das Ciências da Vida, preside à Sociedade Portuguesa de Química Clínica e é sócio da New York Academy of Sciences. Foi professor associado da Faculdade de Ciências Médicas durante 20 anos, fundou e regeu o Curso de Mestrado em Patologia Química e integrou o Gabinete de Estudos Pós-Graduados da mesma faculdade. Nos Hospitais Civis foi diretor dos Serviços de Patologia Clínica dos Hospitais do Desterro e dos Capuchos. Presidiu à Sociedade Portuguesa de Patologia Clínica, à Sociedade Portuguesa de Osteoporose e Doenças Metabólicas e à Associação Nacional de Laboratórios Clínicos. Foi Bastonário da Ordem dos Médicos entre 1999 e 2005.

Editado  pela Temas e Debates


sábado, 11 de março de 2023

HISTÓRIA DA CHINA

 



J. A. G. Roberts

 

Desde o período pré-histórico à ascensão económica dos nossos dias, é aqui traçada a história da civilização chinesa, a mais longa de todas as civilizações do mundo. Uma história complexa que J. A. G. Roberts trata num estilo claro e acessível, abordando em cada capítulo um tema principal.

Começando por referir descobertas arqueológicas recentes que alteraram a visão da história da China antiga, é depois apresentada a história imperial, incorporando novos estudos sobre temas como a posição da mulher na sociedade chinesa, a relação da China com a Ásia Interior, as explicações avançadas para que a China não se tenha industrializado muito antes do Ocidente. Os períodos modernos e contemporâneos são descritos e analisados numa perspetiva muito ampla, com destaque para as Guerras do Ópio, o impacto do imperialismo ocidental, a revolução de 1911, o período republicano e a vitória dos comunistas.

Concluindo com uma apreciação crítica da evolução da sociedade chinesa sob o regime comunista, esta é uma visão atualizada e fundamentada do seu passado no momento em  que a China emerge como a grande potência do século XXI.

Da contracapa

O Autor

J. A. G. Roberts é professor de história na Universidade de Uddersfield (Inglaterra). Leciona principalmente temas de história da China e do Japão, interessando-se de modo especial pela perceção que o Ocidente tem destas duas sociedades. Tem vários títulos publicados sobre a história da China: A History of China: Prehistory to c. 1800 (1996), A Concise History of China (1999), Modern China (2000), China to Chinatown: Chinese Food in the West (2004) e Life in Early China (2008).

 

Editado pela Edições Texto & Grafia


Nota de rodapé

Um bom manual  sobre história da China. FC

 




terça-feira, 7 de março de 2023

ABERTO TODOS OS DIAS

 





João Luís Barreto Guimarães

Prémio Pessoa, 2022

 A poesia de João Luís Barreto Guimarães oscila, sempre, entre a contemplação da História, a ironia sobre as coisas comuns e quotidianas, a transformação dos sentimentos em meditação sobre a passagem do tempo, a construção de um universo próprio com as suas personagens, obsessões e descobertas. Ao mesmo tempo, o autor encetou há muito a busca de uma linguagem única e de uma forma singular no panorama da poesia portuguesa e europeia.


Publicada em várias línguas (do espanhol ao inglês, do croata ao polaco e ao italiano), a sua obra oscila, de um lado sobre a melancolia; do outro, com a ironia - como os grandes poetas da tradição europeia, de Cesário Verde a Philip Larkin, por exemplo, sem ficar preso às fronteiras de uma lírica confessional.

Neste livro evocam-se os dias «do fechamento», mas também, finalmente, aquilo que está «aberto todos os dias» - aberto o livro, aberto o mundo -, aquilo que permanece vivo apesar das pandemias, do esquecimento ou da banalidade. Um grande e auspicioso regresso.

Sinopse da Editora

O Autor

Além de poeta e tradutor, João Luís Barreto Guimarães, que nasceu no Porto em junho de 1967, é médico, professor de poesia no ICBAS/Universidade do Porto, e publicou o primeiro livro de poemas, Há Violinos na Tribo, em 1989. Depois desse, seguiram-se Rua Trinta e Um de Fevereiro (1991), Este Lado para Cima (1994), Lugares Comuns (2000), 3 (poesia 1987-1994), em 2001, Rés-do-Chão (2003), Luz Última (2006) e A Parte pelo Todo (2009). Em 2022 recebe o Prémio Pessoa.

Seguiram-se Poesia Reunida de 2011; Você está Aqui (2013), traduzido em Itália; Mediterrâneo (2016) distinguido com o Prémio Nacional de Poesia António Ramos Rosa e publicado em Espanha, Itália, França, Polónia e Egipto; Nómada (2018) distinguido com o Prémio Livro de Poesia do Ano Bertrand e com o Prémio Literário Armando da Silva Carvalho, publicado também em Itália; a antologia O Tempo Avança por Sílabas (2019), editada também na Croácia, Macedónia e Brasil; e Movimento...

                                             Edição da Quetzal Editores 


Nota de rodapé

Sugiro a leitura da excelente entrevista conduzida por Anabela Mota Ribeiro a João Luís Barreto Guimarães e a Jorge Sousa Braga, disponível em:  https://anabelamotaribeiro.pt/joao-luis-barreto-guimaraes-e-jorge-70395



sábado, 4 de março de 2023

JOÃO LOBO ANTUNES | UM NEUROCIRURGIÃO EM CONSTRUÇÃO





João Lobo Antunes

 

«A aprendizagem do ofício, o cumprimento durante toda a vida dos hábitos de um bom aluno, terão contribuído para fazer de mim um razoável professor ou, melhor dito, um professor feliz.»

«Creio que muitos conhecem o ofício de neurocirurgião, quando mais não seja pelas séries televisivas que tanto o exaltam. [...]. A neurocirurgia e a cirurgia cardíaca disputam palmo a palmo o prestígio e o reconhecimento mediático, e ambas têm uma aura milagreira.

No Neurological Institute de Nova Iorque onde me treinei, ouvi um dia dizer que a diferença entre Deus e o neurocirurgião é que Deus sabe que não é neurocirurgião. Acredita se, com exagerada benevolência, que os praticantes da minha especialidade são possuidores de um carisma especial, algo que parece intrínseco à sua natureza. Carisma significa dádiva dos deuses, e é verdade que este atributo é exigido por quem nos procura, como se possuíssemos uma bênção ou uma benesse adicional — “mãos de ouro”, “mãos benditas”, ouvi muitas vezes.»

«Na véspera da minha partida para Nova Iorque despedi-me de Lisboa que inesperadamente se iluminara de um sol radioso. No meu Fiat 600, deambulei pela Baixa pombalina, subi aos vértices do triângulo que domina a cidade: o Castelo, o Largo de São Pedro de Alcântara e o cimo do Parque Eduardo VII. Enchi-me de Lisboa, como ávida esponja, ou como um dromedário que bebe litros de água porque suspeita que a viagem será longa. A verdade é que nunca mais olhei Lisboa com um olhar tão profundo, e a apertei num abraço tão cerrado e amplo como nessa tarde.»

Da badana

 

O Autor

João Lobo Antunes (1944-2016), foi neurocirurgião de relevo e Professor Catedrático de Neurocirurgia da Faculdade de Medicina de Lisboa. Fundador e presidente do Instituto de Medicina Molecular, assumiu ainda a presidência do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida. Defensor de uma visão humanista da medicina e detentor de vasta cultura, publicou sete livros de ensaios: Um Modo de Ser (1996), Numa Cidade Feliz (1999), Memória de Nova Iorque e Outros Ensaios (2002), Sobre a Mão e Outros Ensaios (2005), O Eco Silencioso (2008), Inquietação Interminável (2010) e Ouvir Com Outros Olhos (2015); uma biografia de Egas Moniz (2010); e, na coleção «Ensaios» da Fundação Francisco Manuel dos Santos, A Nova Medicina (2012).

Entre as várias distinções que recebeu conta-se o Prémio Pessoa (1996) e o Prémio da Universidade de Lisboa (2013). Foi ainda agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (2004) e Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago de Espada (2014), que distingue o mérito literário, científico e artístico.

 

Edição da Gradiva