segunda-feira, 29 de maio de 2023

A MAIS BREVE HISTÓRIA DE INGLATERRA




 

James Hawes

À medida que James Hawes avança no tempo, de César até ao Brexit, por entre conquistas, impérios e guerras, tece uma nova e profunda narrativa de Inglaterra. A ilha-fortaleza está dividida por uma linha que é anterior à invasão dos romanos; o seu destino tem estado sempre ligado aos dos países vizinhos, goste-se ou não; e há mil anos que se rege por um sistema de classes diferente de todos os outros no planeta.

Nunca houve um momento melhor para perceber porque é que Inglaterra é como é.

 

O Autor

James Hawes é autor de seis romances. Speak for England (2005) previu o Brexit; foi adaptado à televisão por Andrew Davies. O seu livro mais recente, A Mais Breve História da Alemanha, é um best Zeller internacional. Trabalhou recentemente no documentário da BBC The Making of Us: The History of British Creativity.

 

Edição da LeYa – D. Quixote

quarta-feira, 17 de maio de 2023

O MÁGICO DA LUA

              



Rui Sobral de Campos

Neste romance, breve e vertiginoso, vive-se o drama de um médico enamorado da sua paciente, mortalmente enferma, e a luta inglória da medicina contra o progresso da doença. Rui Sobral de Campos opta por um estilo descarnado e seco de narrativa, apenas ornado, aqui e ali, de pormenores técnicos ou de enquadramento familiar que mais não fazem senão obrigar o leitor a tornar-se, ele próprio, um espectador lúcido da angústia de personagens impotentes.

Os dois principais protagonistas parecem assumir, a princípio, uma pura atitude agnóstica, excluidora de qualquer dimensão metafísica, não enxergando na morte senão uma estrada em direção ao Nada absoluto.
Apesar disso, e é esse o momento mais belo da obra, uma certa forma de redenção é encontrada no regresso ao realismo fantástico da infância corporizado na paisagem encantada da Fonte Benémola, lugar onde aparece o Mágico da Lua, aquele que propicia a realização dos sonhos.

Sinopse

 O Autor

Rui Sobral de Campos é médico anestesista com competência em medicina da dor.
Trabalhou em hospitais públicos e privados da área da Grande Lisboa.


Nota de rodapé

Mais um magnífico livro, que recomendamos, do nosso colega Rui Sobral de Campos, aliás, esta foi a sua primeira obra já esgotada e  agora revista e reeditada.


A. M.


                                                         Editado pela Althum.com

sábado, 13 de maio de 2023

HISTÓRIAS DA VIDA CLÍNICA - 5

 

Haja Deus!

 

O episódio que descrevo a seguir, ocorreu comigo há cerca de quarenta anos na mesma urgência do hospital concelhio, onde vivi solitário outros casos inesquecíveis.  

 

- Haja Deus! – foram as primeiras palavras da doente.

Era domingo, esta senhora encontrava-se tranquilamente a almoçar em casa na companhia do marido, quando ao mastigar um pedaço duro de carne, ficou subitamente com a mandíbula imobilizada e dolorosa, o que motivou a sua vinda imediata à urgência.  

À entrada, apresentava-se com a face assimétrica, de boca aberta sem conseguir falar, babando-se copiosamente e de olhar assustado. A surpresa era grande, pois era a primeira vez que tal lhe tinha acontecido.

O que se tinha passado? A extremidade superior do osso maxilar (inferior) do lado esquerdo, tinha saído da sua cavidade natural, o que provocou um bloqueio da articulação.

Palpei cuidadosamente as articulações dos dois lados do rosto. Naquele hospital não dispunha do apoio de Radiologia. Ponderei rapidamente a situação, e decidi-me por tentar sem demoras resolver ali mesmo o problema – reduzindo a luxação. Ia medir forças com um músculo fortíssimo o – masséter - para restituir a extremidade do osso à sua localização original. Prescrevi um relaxante muscular e um analgésico, esperei pelo efeito e com toda a força pressionei para baixo sobre os dentes de trás, empurrei o queixo para cima, e senti nos dedos o ressalto da entrada do osso na cavidade.

E é quando a doente solta a exclamação com que começo estas linhas:

- Haja Deus! - certamente que não estava a referir-se a mim.

Escusado será dizer que teve alívio imediato e saiu felicíssima com o marido de regresso a casa.

E eu, ainda não acreditava no que tinha conseguido fazer, era a primeira vez que me confrontava com uma luxação temporo-mandibular e resolvia a situação sozinho.

Curiosamente, passados um ou dois meses surge-me outra doente com o mesmo problema e eu muito confiante, não hesitei em tentar a mesma manobra, tentei, tentei, tentei…. e o osso permaneceu imóvel indiferente aos meus esforços, pelo que me decidi pela transferência da doente para a urgência de Cirurgia Maxilo-Facial do Hospital de S. José, em Lisboa.

A isto chamo: a sorte do principiante.

C.F.

terça-feira, 9 de maio de 2023

A HERDADE DO MOCHO





Rui Sobral Campos


“A Herdade do Mocho” é uma obra de ficção, mas que retrata de forma realista o nascimento e a expansão de uma Herdade situada numa das zonas mais pobres e secas do Alentejo.
A Herdade do Mocho vai crescendo ao longo das gerações de uma família, sobrevivendo aos infortúnios quer das personagens, quer do tempo ou dos regimes políticos.
A obra está repleta de personagens fortes, cativantes, bem construídas, que vão passando o legado da Herdade ao longo das gerações; todas acabam por ter um papel importante nas decisões que levam ao crescimento da Herdade e da sua manutenção na família.
O autor não se limita a contar a edificação da Herdade do Mocho, nem tão pouco as aventuras e desventuras dos vários familiares dos proprietários da Herdade, faz também uma reflexão sobre várias temáticas importantes, tais como o racismo, a homossexualidade, relações incestuosas, a mulher forte e determinada, a comunidade cigana existente no Alentejo e toda a população pobre, sem recursos e analfabeta, do Alentejo.
Ao mergulhar nestas páginas, o leitor irá conhecer as várias gerações da família que habitaram a “Herdade do Mocho” e fará uma viagem pela História de Portugal (social, económica e política). No final, ficará tentado a percorrer o Alentejo em busca desta Herdade, querendo entrar dentro das suas portas ansiando encontrar alguma das suas personagens.


O Autor

Rui Sobral de Campos nasceu em 1941 no Porto. Licenciado em Medicina e em História, trabalhou em hospitais públicos e privados de 1970 a 2012.
Publicou quatro romances, entre os quais Em Nome de Meu Pai distinguido com o Prémio Fialho Almeida Ficção 2019 da Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos e A Informadora – Crónica de anos sombrios.
Na sua obra literária, Sobral de Campos procura não deixar que o iníquo Estado Novo caia no esquecimento, visto que as novas gerações, sobretudo as nascidas pós 25 de Abril, têm legitimamente outras preocupações.
Outros temas que lhe interessam têm a ver com as desigualdades sociais que manietam Portugal, bem como a lenta subida do elevador social. A Herdade do Mocho é o seu quinto livro.


                                      Editado  pela Europa Editora


                                  

terça-feira, 2 de maio de 2023

HISTÓRIAS DA VIDA CLÍNICA - 4

 

605 Forte


Com poucos anos de exercício da profissão médica, no princípio dos anos oitenta, trabalhei aos fins de semana na urgência de um hospital concelhio.

O Serviço Nacional de Saúde já criado, estava a dar os primeiros passos na sua implementação.

A equipa da urgência era mínima: um médico e uma enfermeira, e os meios postos à nossa disposição eram rudimentares. A oferta de cuidados de saúde no concelho era pouca, para uma população numerosa com fracos recursos.

Num desses dias de trabalho intenso, quando me encontrava a observar um doente, sou interrompido por uma algazarra vinda da entrada da urgência, e de imediato, a sala onde eu estava é invadida por várias pessoas a acompanhar um jovem muito agitado, que ao entrar no gabinete gritava repetidamente: - Dr.  estou perdido por amor de Deus salve-me a vida, salve-me vida! -, como se eu estivesse investido de poderes divinos.

Não era difícil perceber, pelo cheiro característico que dele emanava o que tinha acontecido: tinha ingerido 605 forte, um veneno muito potente utilizado na agricultura e  pelos suicidas em meio rural. Este produto deixa um rasto de destruição tal nos órgãos por onde passa, para mim só comparável à imagem de uma corrente de lava.

Senti dramaticamente que este jovem não tinha desistido e eu pouco tinha para lhe oferecer, mas tudo faria para o manter vivo. Tenho para mim, desde sempre, que praticar Medicina sem compaixão não é ser médico, será outra coisa qualquer.

Este trabalhador rural tinha escolhido a cabana das alfaias agrícolas da propriedade onde trabalhava para preparar e ingerir o veneno. Assim o fez, e logo se arrependeu e correu a pedir socorro aos seus vizinhos que o trouxeram ao hospital.

O meu objetivo era fazer chegar este homem vivo à unidade de cuidados intensivos mais próxima, no caso a U.U.M. do Hospital de S. José, que distava 40-50 km do local de onde nos encontrávamos.

Além de outras medidas de suporte dirigidas às manifestações respiratórias, era vital estabilizar o ritmo de um coração que teimava em parar. Não dispunha sequer de um electrocardiógrafo. Recordo-me de lhe ter administrado várias vezes atropina para acelerar o ritmo cardíaco e criar as condições mínimas para a sua evacuação.

Chamámos os bombeiros, que ao chegarem nos disseram que tinham trazido a ambulância mais veloz que lá tinham – atingia os 150 Km/h!

À saída pedi-lhes duas coisas: que não se matassem pelo caminho e no regresso passassem lá pelo hospital, para me informarem se o doente tinha chegado vivo aos cuidados intensivos.

A sala onde tínhamos estado a assistir ao doente era grande, mas o cheiro que o veneno deixou era de tal modo intenso que teve de ficar sem poder ser utilizada, com as janelas abertas, o resto do período daquela urgência.

Ao fim de algumas horas, apareceram ao fundo do corredor os dois jovens bombeiros sorridentes.

  - Dr. ele chegou vivo! -  disseram-me felizes. Abraçámo-nos e agradeci-lhes a ajuda que me tinham dado e principalmente ao doente.

Naquela corrida de estafetas contra a morte, tínhamos cumprido a nossa parte.

No meio daquela tragédia, ficaram-me perguntas sem respostas: que sofrimento estaria por detrás de tudo aquilo que vivenciámos? que personalidade era aquela? que razões teriam levado aquele jovem a um gesto tão definitivo, seguido de um arrependimento tão imediato?  

Estes desastres humanos a que os médicos estão tantas vezes expostos, deixam marcas que os acompanham o resto da vida.

C.F.